A Arena da Amazônia foi apresentada ao público, neste domingo (09.02), no jogo entre Nacional (AM) 2 x 2 Remo (PA). Apesar do empate não ter sido comemorado pela maioria dos 20 mil torcedores, já que o time local foi eliminado da Copa Verde, a população amazonense se mostrou orgulhosa com o estádio de Manaus para a Copa do Mundo. A qualidade da construção, o acesso, o conforto e a segurança foram alguns dos pontos elogiados, enquanto o serviço nos bares foi apontado como o principal aspecto a ser aprimorado.
CEO do Comitê Organizador Local, Ricardo Trade destacou a beleza conceitual e arquitetônica da arena e a qualidade do gramado, e reforçou que os testes antes da Copa são essenciais exatamente para que pontos a serem ajustados sejam percebidos antes do megaevento.
"Para mim, em relação à estética e à beleza, essa é a arena mais bonita, junto com a de Natal. O gramado foi uma constatação boa, porque esperávamos que estivesse em boas condições, por toda a preparação que houve. Embora não fosse um evento-teste oficial, com nossa equipe, foi diferente porque foi um jogo valendo vaga, uma decisão, com assentos marcados. Outra coisa nova foi a presença dos stewards, o perímetro de segurança. Alguma coisa pode não funcionar direito, mas o teste é para isso, para dar esse ajuste fino", afirmou.
Um dos pontos a ser aprimorado na operação é o serviço de bares, como avaliou Miguel Capobiango, coordenador da Unidade Gestora da Copa (UGP Copa). Para ele, há a necessidade de aumentar a quantidade de quiosques móveis de venda, além dos bares. "Estávamos preparados para qualquer tipo de incerteza, mas não para a venda de produtos. Teríamos que ter uma outra operadora para dar suporte", afirmou.
» Vídeo, fotos e infográficos: conheça todos os detalhes da Arena da Amazônia
Opinião compartilhada por torcedores que citaram filas e tempo de espera no atendimento como pontos de atenção. “Vim para a fila 15 minutos antes de acabar o primeiro tempo e já vai começar o segundo e não fui atendido. Não há funcionários em número suficiente, o mesmo que recebe o dinheiro e dá o troco te atende”, afirmou Francisco Alves, técnico em eletrônica, em um dos bares do setor sul. Em outros pontos, como um quiosque no setor leste da esplanada, o problema apontado foi a falta de produtos ainda no primeiro tempo.
Outro imprevisto foi a indicação de assentos inexistentes em alguns ingressos, problema que foi contornado com o direcionamento dos torcedores para a arquibancada superior leste da arena, próximo à tribuna de imprensa, que estava vazia. “O mapa entregue para a gráfica estava correto, mas como os assentos têm uma sequência e há uma falha que são os túneis de acesso ao campo, acho que o pessoal da gráfica rodou direto e não percebeu que tinha que retirar esses ingressos. Mas, o primeiro teste é para isso, é um ponto crítico que tem que ser avaliado e validado e não pode acontecer de novo”, explicou o coordenador da UGP Copa.
Segundo Capobiango, as experiências da inauguração já serão levadas em conta para o próximo teste no estádio, marcado para sábado (15.03). A partida entre Fast Clube e Princesa do Solimões é válida pela final do primeiro turno do Campeonato Amazonense.
Orgulho de quem fez e de quem conheceu
Se há pontos de ajuste, há também orgulho manifesto. "Eu vim de ônibus. Foi fácil, estava tranquilo o acesso em volta da arena. O ambiente está legal. O que mais me chamou a atenção foi o gramado, um tapete. Estava até comentando com meu amigo que esse gramado é para jogador bom. Jogador bom vai deslanchar nesse campo", comentou o militar Luis Fabiano da Silva.
"Para um teste eu achei que ia encontrar mais dificuldades. As pessoas foram atenciosas, bem informadas e nos trouxeram até aqui. A tendência é melhorar", avaliou Mário da Silva, que estava acompanhado da filha de 13 anos, Amanda Farias. Cadeirante, ela elogiou o acesso por rampas, as catracas reservadas para deficientes na entrada do estádio e a orientação dos voluntários. "O estádio está preparado", resumiu.
“Para nós amazonenses, como a gente não tem obras grandes, chega a emocionar. É uma coisa que vai ficar para filhos e netos e espero que nosso futebol comece a crescer”, destacou o motorista Ribamar Oliveira, enrolado na bandeira do Nacional. “Ninguém me influenciou a torcer, foi por amor. Quem é Nacional não mede esforços para acompanhar o time”.
"Essa afinidade da população com a arena foi muito positiva. As pessoas compreenderam o quanto ela pode gerar em visibilidade. Há uma identidade grande com a arquitetura que evidencia alguns símbolos próprios da região. As parcerias também funcionaram. As entidades compreenderam a importância desse primeiro evento: a policia, os bombeiros, os voluntários da Universidade do Estado do Amazonas, todos estiveram engajados e responderam muito bem", disse Capobiango. Para ele, um dos pontos altos foi a execução do Hino Nacional pela orquestra sinfônica, com o Coral do Amazonas.
Na arquibancada, sete mil operários que participaram da construção, como José Adeílson, 35 anos, encarregado de produção, ganharam ingressos para assistir ao primeiro jogo no estádio que ajudaram a edificar. “Dá orgulho ver uma obra dessa pronta. Nunca pensei em participar de uma obra da Copa. Aqui nós temos a Amazônia, um estádio da Copa dentro da floresta, um povo hospitaleiro, um mercado forte, indústria, então, só fico triste quando vejo as manchetes falando mal daqui. O pessoal tem que vir para conhecer a nossa cultura”, afirmou Adeílson.
Josemar Serrão, que participou da demolição do antigo estádio Vivaldo Lima, narrou sua sensação no novo palco. “Ajudei a demolir o antigo estádio para construir essa beleza. No começo era meio triste, porque não sabia como ia ser o estádio novo, mas quando começaram a chegar as estruturas, vi que seria algo grandioso. Fui tendo noção que seria um estádio de primeiro mundo”. Para ele, ver a arena inaugurada e cheia de torcedores é a realização de um sonho. “A expectativa era ver um grande jogo. Eu sonhava ver o estádio assim. É emocionante”, resume.
Já Marcos Leite, que trabalha na parte de hidráulica da arena, estava em serviço na hora do jogo para dar apoio na operação do estádio. Para ele, a recompensa foi ver a arquibancada cheia. “Representa o dever cumprido, com muita dedicação. Nosso retorno é ver esse estádio cheio e seguro, mostra que com muita luta conseguimos vencer”. Satisfação compartilhada em dobro pelo colega paraense e carpinteiro, Romildo Gama. “Gosto ainda mais especial ver o meu time classificado. Só não deu para comemorar que hoje estou em serviço”, disse. Os operários em serviço puderam dar as entradas a outros familiares.
Placas oficiais
Com os portões abertos quatro horas antes do início da partida, o público foi chegando aos poucos e uma hora antes do apito inicial, dado às 18h30 (19h30 de Brasília), a arquibancada inferior, a tribuna de imprensa e as áreas Vips estavam quase cheias.
Antes de a bola rolar, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, o governador do Amazonas, Omar Aziz, e o prefeito de Manaus, Artur Neto, entraram em campo para descerrar duas placas que marcaram a inauguração do estádio. “Eu espero que a população amazonense fique feliz e satisfeita em saber que nós não podemos nos sentir menores do que ninguém. Mostramos que temos capacidade de construir algo grandioso e demos uma demonstração clara de que somos iguais a qualquer estado brasileiro”, disse Aziz.
“A recepção a esse jogo é uma prova de que a arena já tem condições de se submeter aos eventos testes. Eu acho que o Amazonas, a Amazônia e o Brasil estão de parabéns”, afirmou Aldo Rebelo. "Este estádio é um orgulho não só para a Amazônia, mas para o Brasil inteiro. Será fator impetrante para a qualificação do futebol na Região Norte e palco de bons jogos regionais, como o que assistimos hoje e, também, dos campeonatos nacionais", completou o ministro.
A diretoria dos Correios no Amazonas anunciou o lançamento do selo comemorativo da Copa, com o cartaz da cidade-sede de Manaus. Depois das cerimônias, foi a vez do animador do estádio levantar a torcida pedindo as “olas”, conhecidas por "banzeiros" na região.
Paixão cultivada
A diretora da torcida "Narraça", Déborah Melo, 24 anos, trabalha como voluntária, ou como resume, por paixão, para ter o privilégio de apoiar e acompanhar o time amazonense. “Em primeiro lugar eu vim para torcer e acompanhar o meu time, que me representa, que é o Nacional, pelo Amazonas. Em segundo lugar, a inauguração da nossa casa, que é o antigo Vivaldão, que é a nossa segunda casa mesmo. Agora, mais bonita e vai acolher mais pessoas”.
Acompanhada por 20 crianças da “Narraça Kids”, que entraram em campo com os jogadores, ela destaca a importância de incentivar a torcida pelos times locais desde cedo. “A gente trouxe as crianças para elas entrarem com os jogadores e com a faixa da torcida, para estimular desde pequeno a acompanhar e a apoiar os nossos times, não os times do sul, porque a gente tem futebol no nosso estado”, defende.
Melhor para os paraenses
Com a bola rolando, o Nacional foi para cima do adversário, empurrado pela torcida, mas mostrava imprecisão e nervosismo na hora de concluir as jogadas. Em uma delas, Fabiano Tanque, livre para chutar, parou no goleiro após bola em profundidade. Foi quando a animação da torcida local crescia que o Remo abriu o placar em cobrança de escanteio. O zagueiro Max subiu mais que os adversários e anotou de cabeça o primeiro gol da nova arena.
Na etapa complementar, o Nacional voltou disposto a buscar o empate. Aos 12 minutos, Chapinha acertou o travessão do adversário. Mas, como no primeiro tempo, foi o Remo que marcou, novamente com Max aproveitando cruzamento. A torcida paraense fazia a festa na Arena da Amazônia e ensaiava gritos de olé quando o time da casa reagiu, primeiro com Jefferson Recife, aos 29 minutos, e depois com Naldo, que acertou um belo chute de fora da área, aos 41 minutos.
Empurrado pela torcida, que voltou a acreditar na classificação, o Nacional se lançou ao ataque, mas sem sucesso. O resultado de 2 x 2 classificou o Remo, por ter feito mais gols fora de casa, já que havia empatado com o Nacional, em Belém, por 1 x 1. A equipe paraense avançou para a semifinal da primeira edição da Copa Verde, que reúne times do Norte, Centro-Oeste e Espírito Santo.